quarta-feira, 22 de julho de 2015

PÂNICO NA GALERIA






Cinco pessoas, três delas usando máscaras, entraram na tarde de ontem numa galeria de arte na Rua Aspicuelta, na Vila Madalena, e destroçaram a exposição de fotografias do artista conhecido como Choque (formado em fotografia pela faculdade Senac).

"Impostor", "Otário", "Safado" e "A rua não precisa de porta-voz" foram algumas frases pichadas nas paredes da mostra na Galeria Crivo. Também havia referências ao pichador conhecido como Guigo, que morreu em 2011 ao cair de uma altura de 10 metros enquanto escrevia num edifício em São Paulo. O grupo o trata como um mártir da atividade.

No ataque, cinco telas foram cobertas de tinta, uma foi arrancada da moldura e jogada ao chão, e tubos de spray e pegadas de tinta estavam por todo o chão. Os próprios agressores documentaram toda a ação, que durou cerca de meia hora.

Dois rapazes chegaram à galeria às 15h30, sob o pretexto de visitar as exposições. Um deles portava uma câmera. Já no interior, levaram o funcionário que cuidava da mostra para os fundos e anunciaram que tinham diferenças com Choque e que iam "fazer uma coisa" com suas obras, e advertiram que não tinham nada pessoal contra a galeria e as pessoas ali - mas não aceitariam reação.

Choque é especializado no universo das inscrições clandestinas de fachadas, Ele teve uma mostra, Pixação SP, exposta em 13 países, e integrou a equipe do documentário Pixo, dirigido por João Wainer. Segundo declarou no programa da exposição, fotografa pichações com o intuito de ajudar a desvendar o universo codificado da atividade. "Há muita discussão sobre esse tema. Na mostra, e em todo o meu trabalho, as pessoas podem perceber o quanto tudo isso é onipresente em nosso cotidiano".

A agressão que o artista sofreu virou mais que uma evidência da onipresença da pichação, mas também de seu zelo pela ilegalidade. Choque acompanhou pichadores pela cidade por 4 anos. Quando seu trabalho saiu da esfera da documentação para a das galerias, seus antigos amigos resolveram retaliar o artista por "ceder ao comércio". A galeria acredita que eles já tinham vindo antes para saber o que as fotografias retratavam, quais cenas.

Já houve atentados de pichadores à Bienal do Vazio (uma pessoa foi condenada) e também à galeria Choque Cultural, ambos em 2008. Desta vez, na Galeria Crivo, eles fizeram uma espécie de trato: avisaram que destruiriam as fotos de Choque, mas não fariam danos às dos outros dois em exposição na Crivo, Vivi Bacco e Julieta Bacchin.

O proprietário da galeria, que também é artista, JP Possos, estava envolvido com as providências a respeito do caso e falou brevemente sobre o ataque. Ele defendia a manutenção da cena para visitação, como uma testemunha das reações que a arte provoca, mas não sabia se isso seria possível. O artista, temendo retaliação, não quis conversa. A polícia, chamada, fez perícia no local na manhã de hoje e examinou as obras danificadas. Segundo fontes, já tem pistas dos agressores.

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